«Com os pés enterrados na areia negra e áspera, ela sustém a respiração segundos antes do sal do mar lhe queimar as feridas abertas entre os dedos. O sol que desponta ainda não lhe aquece o corpo despido, nem a água em que agora mergulha. Em breve terá de se juntar às outras mulheres no ribeiro no outro lado da ilha onde não há casas. Quanto tempo demorarão elas até denunciarem a ausência de sangue profuso que costuma manchar-lhe a roupa de cama? Em silêncio (sempre) já o terão notado enquanto esfregam e batem contra as rochas lisas lençóis, toalhas, camisas de dormir. Aqui, neste pedaço de oceano onde agora flutua, pensa se se deixa levar pelas ondas até à praia ou se escolhe o doce alívio de se afundar.»
— «Equilíbrio»